sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Pérfido.

Ela sabe e já está cansada de tentar entender. Não pode ver, não pode sentir, mas sabe. Sabe que é muito melhor do que parece. Sabe que sua capacidade não se limita a folhas de papel. Sabe que pode ser muito melhor e ainda será. Mas algo a impede de seguir em frente. Medo, dor, amor, amor. A canção pode invadir os ouvidos e inspirar a alma mas a insegurança ainda a segura, tão tão companheira. Ouve um tempo de dias melhores, onde o som do piano de calda encantava a alma. Bem sabe que o passado jamais será presente e o futuro ainda está por vir... Longe, logo ali. Não sabe o que fazer. Pela cabeça passa tudo... Tempo, sentimento. Então ela corre pra longe onde pode ouvir anjos cantarem. Mas nada a vê. Então ela fecha os olhos e enxerga. A agonia fantasma se vai e leva consigo o desespero e então ela chora. E pela primeira vez não sente fraqueza. Passou, já foi. Agora ela pode recomeçar a trilhar seu caminho, encontrar sua estrada, alcançar as estrelas sem cegar o céu. Plena, simples, suficiente.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sobre melodia e rosas.

A canção percorreu o ar e invadiu os ouvidos acalmando os corações. A doce melodia do piano de calda se misturava sutilmente com os acordes dramatizados do violoncelo. Lá fora, em outros tempos, ela permanecia sozinha. Os olhos escuros como a noite seguravam as lágrimas enquanto pelos cabelos a chuva escorria. Não mais trazia certezas. As duvidas que a preenchiam eram demasiadamente pesadas. Quem sabe algum dia voltaria a sorrir mas agora, encontrava-se sozinha. Ao longe, um vermelho sangue pintava o chão de pedras. Levantou-se com o pouco de força que lhe restava e pôs-se a caminhar na direção da unica cor que via. Encontrou ali um jardim de rosas vermelhas. Tão vívidas como a primavera. Arrancou uma flor já aberta sem muito cuidado, e respirou-a. Por um momento pode sentir tudo que a rosa já tinha visto naquele jardim. O som no salão metamorfizava-se aumentando o ritmo rapidamente. Então ela dançou. Como nunca jamais havia feito. Sabia agora que mesmo com os espinhos contidos na flor, não perdera sua beleza. Podia ainda enfeitar o dia. Relembrar o amor.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cambiante.

Porque eu sempre tive que sucumbir a vontade dos outros? Porque nunca me deixaram ter ombro pra chorar ou só por uma noite, alguém que pudesse me cuidar? Sou tão nova e tão estragada. Tão impura e tão sozinha. Me ensinaram a ser forte pelos outros, mas esqueceram de me contar que estes não estariam aqui por mim. Eu estou tão cansada. Queria ir embora mas não tenho pra onde ir. Só queria fugir. Sucumbir a doença. Parece que corro em círculos. Por hora a história muda, no entanto, as personagens continuam as mesmas. Meu papel nunca muda e eis que é escrita uma história que ninguém mais quer ler.

Meras palavras.

Pendente no abismo sou por acaso fuga sem refúgio. Sob um céu azul laranjado que anuncia mais um fim de dia. Sou de fato complexa em minha simplicidade, minhas vontades. Eis que surge sempre a dúvida de que o que foi não mais poderá ser como fora, mas há de poder ser melhor ou é claro, como Murphy afirma, pior. A cada noite de insonia crio em mim mais uma parte que me torna quem sou. Completa, mas não inteira. Bem sabemos que não há como dizer quem somos. Não posso me sujeitar a ser o que meras linhas descrevem. Quem há de poder? Sou fé, força, desejo, dúvida e medo. Sou o tudo e o nada. Virá o dia em que ei de ser uma mera folha em branco na espera de que possa ser escrita nova história. E é sempre a hora. Sempre um novo começo que espera trazer consigo um fim diferente. Haverei então de me tornar inteira mas também um velho livro, no fundo de uma prateleira madeira âmbar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mas você não vai me ver chorar.

Por muito tempo eu não escrevi sobre mais nada. Eu não falei sobre mais nada. O fato é que estava sentindo demais. A falta de alguém que nunca me pertenceu, a solidão do lar. O frio entrando pela sacada já não se igualava ao frio que algum dia houve dentro de mim. Não havia festas, bebidas e nem cigarros. Por muito tempo não houve perdição e nem diversão. Me tornei o nada que prometi a mim mesma jamais me tornar por alguém. Eu continuava a sorrir. Sorrir sempre foi fácil. Eu permaneci por muito tempo respondendo que sim, que estava bem quando alguém perguntava, já que de verdade mesmo, a resposta ninguém quer saber. Tenho percebido isso ultimamente. Aquelas milhões de pessoas que já te disseram que estariam ao seu lado pra tudo... QUANTAS realmente estão? Mas de verdade mesmo. Aquelas que querem saber se você está um pouco melhor a cada dia, que querem te ajudar, que ficam preocupadas ao ver... ver você se machucar. O corte libera endorfina que é praticamente anestésico. Mas como anestesiar o que se sente? É nesse momento que ferir a si mesmo parece uma boa ideia. Você sente tanto a dor física - e quer sentir porque ela liberta, não deixa sufocar - que não se importa se seu coração está em pedaços ou se sua alma está misturada a fumaça tóxica. Aí então você se fecha novamente. Por Zeus, eu tenho vivido apenas um dia por semana e chorado em todos os outros. Todos veem mas não querem falar nada. A dor ganha o infinito por companhia e eu só quero que acabe mais um dia. Até o café já esfriou de tanto esperar que tudo volte ao normal. Eu estou aqui mais uma vez. Juntando palavras e escrevendo aquilo que não se pode descrever. O frio arrepia minha espinha, sei que estou sozinha. Mas vamos parar de chorar esse coração, espere um momento, aah.... Como eu queria! Como eu preferia os dias em que meu coração não batia.